segunda-feira, 11 de junho de 2012

ESPELHO ...ESPELHO MEU



Entretanto, negar o papel do outro na construção de nossa auto-imagem não é uma coisa que se deva fazer. A psicóloga Dorothy Briggs dedicou-se a estudar auto-estima, especialmente depois que foi mãe. É dela o ótimo livro A Auto-Estima de Seu Filho (Martins Fontes), um estudo da influência dos pais e, depois, de outras pessoas, a começar pelas primeiras professoras e coleguinhas, em nossa vida auto-afetiva. 

Ela propõe uma reflexão sobre o que chama de “fenômeno dos espelhos”, em que pergunta aos pais se eles já se perceberam como espelhos psicológicos que seus filhos usam para construir suas próprias identidades. Sim, os pais são os primeiros referenciais de que as crianças se valem para se sentirem vivas, participantes ativas deste mundo que elas começam a habitar. As crianças se sentirão bonitas, fortes, amadas, corajosas a partir da imagem que o espelho lhes devolva. A construção de uma identidade positiva depende, sem dúvida, de experiências positivas na vida, e essas experiências são compartilhadas.

O fenômeno dos espelhos se amplia na medida em que cresce o mundo ao nosso redor, multiplicando as relações e aumentando os feedbacks. E o problema é que o mundo às vezes parece aquelas salas de espelhos que havia nos parques de diversões. Você se via imensamente gordo em um espelho, para verse magricela e comprido no próximo. Essa situação é cômica porque conseguimos rir de nós mesmos, ou melhor, da imagem distorcida que os espelhos nos devolvem. Rimos porque sabemos que nada daquilo é verdade, nenhuma imagem corresponde à realidade. Conhecemos nossa verdadeira imagem e ela não estava em qualquer daquelas mentirosas superfícies polidas. 

E na vida diária, também é assim? Quanto você confia, ou desconfia, do que os espelhos da vida lhe dizem? E quanto essas imagens refletidas são importantes para você? Respostas que só a maturidade é capaz de dar. É claro que os espelhos são importantes, mas, convenhamos, não é isso que importa. O que importa mesmo é o que você fará com o que os espelhos lhe disserem. 

Desejar ser o que não é ou, pior, desejar não ser o que é equivale a negar a si mesmo, mentir para a alma, anular sua essência. Como o pobre do Julien Sorel, que tentou matar a única mulher que amava para tentar ficar com a que não amava, mas queria amar, porque achava que assim poderia ser o que não era, mas gostaria de ser. Sermos o que somos verdadeiramente é o único caminho para chegarmos a ser o que desejamos intensamente. 

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